Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ventania e o sucesso com a viola de 10 cordas


Ventania exibe os troféus conquistados com sua viola (foto: Leonardo Gomes)

Hoje, na Fundação de Esportes, estive com Mattos Ventania, um violeiro giramundo que apareceu por aqui, bandeando de Andrelândia, Minas Gerais, onde vendeu casa e tudo que tinha para realizar o sonho das andanças. Estava em São Fidélis. O dinheiro acabou, o aluguel atrasou, a luz foi cortada e ele só tinha para vender sua música, que, sem fama, de nada valia.


Queria participar do Festival Brasileiro de Viola de Mimoso do Sul (ES), mas não tinha dinheiro. JUntei o que eu tinha no bolso, pedi ajuda ao amigo Rafael Crespo e arranjamos o dinheiro para ele disputar o certame com gente de todo o país com sua música Lua Cheia. Ouvimos a música. Linda! O rapaz, que mais parecia um hippie da época de Woodstock, agradeceu e foi. Foi e venceu. 
Ventania e Avelino, a quem agradece o apoio (Foto: Leonardo Gomes)
 
Veio morar em Campos, terra que lhe daria mais oportunidades. Onde, então? Num canil na antiga Ceasa (tem lá uma associação de proteção aos cães). Morou com os cachorros um tempo (ele já teve cinco). Um dia, vai a Macaé participar de um evento e dormiu no banco da rodoviária. Foi-se sua guitarra de 12 cordas. Em desespero, pediu minha ajuda. Mais uma vez eu e alguns amigos fizemos uma "vaquinha" e ele comprou uma viola, desta vez, de 10 cordas. Foi para o Rio de Janeiro. E no FEstival de Mimoso, ganhou o primeiro lugar com Flores da Colina (que está no youtube). 


O título de melhor violeiro do Brasil (o Festival não julga letras, mas sim, a música, a harmonia, a complexidade das notas) lhe rendeu matérias, espaço em rádios do Espírito Santo e Rio de Janeiro, TVs de canal fechado... e hoje ele me procurou para agradecer o apoio, mostrar seus troféus e dizer que está bem. Gostaria de apresentar seu repertório em Campos. Disse a ele que não estou mais na Fundação, mas para ele tentar falar, se conseguir, com a nova presidente. Por certo, haverá sensibilidade para reconhecer o seu belo trabalho na viola de 10 cordas. 

Abaixo, reproduzo matéria do site mimosoonline com o artista que tenta vencer como músico sem negociar princípios:  

Mattos Ventania concede entrevista exclusiva para o site mimosoonline

Cabelo solto, tatuagem com as notas musicais nas mãos, chinelo nos pés... Esse é o Mattos Ventania, violeiro desgarrado, amante da lua cheia e vencedor do Festival de Inverno de Sanfona e Viola de São Pedro do Itabapoana.
(Foto: Beto Barbosa)
“Ando de chinelo que é mais gostoso que andar de sapato. Eu sou homem que mora na montanha, perto do céu e no meio do mato.”
Foram com essas palavras que o violeiro vencedor do Festival de Inverno de Sanfona e Viola de São Pedro do Itabapoana, Mattos Ventania, me recebeu numa entrevista ao site Mimoso-Online.

O violeiro é de Andrelândia (MG), tem o apelido de Mattos Ventania porque vive no meio do mato e está sempre “ventando” para todos os lados. Sua moradia nem sempre é certa, mas os laços construídos de amizades são para toda a vida. Aonde vai, faz amigos, canta, compõe, se diversifica em meio à diversidade de todo o Brasil.
Ventania tem a fala mansa, sem pressa, toca rápido ou devagar seja na escala natural da viola ou na escala da 4ª no tom da tônica num ritmo gostoso e empolgante.

Ele é violeiro, meio rockeiro, gosta de estilo regional, mas não deixa o bom inglês de lado... Durante a conversa, relembrou sucessos do Gun’s Roses, Eurithmics, Bonnie Tylor, entre outros. Aprendeu inglês sozinho, tocou viola pela primeira vez com dezesseis anos, é um talento nato.
Em São Pedro do Itabapoana fez bonito durante a apresentação ao faturar o primeiríssimo lugar na viola. No ano passado, Ventania ficou na 4ª colocação e desde então contou os dias para voltar ao Festival, que segundo ele é uma festa muito mais bonita que a conhecida “Festa da Cachaça”, de Paraty (RJ). (Para quem não sabe essa festa atrai mais de 60 mil pessoas por ano).

MIMOSOONLINE – Ventania, quem foram as suas maiores inspirações musicais?

MATTOS VENTANIA – Raul Seixas, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho, aliás, muitos acham que a minha voz e a do Zé Ramalho são parecidas. Mas não forço a barra e nem tento cantar igual, é apenas o meu tom de voz que se confunde.
MIMOSOONLINE – É verdade que compôs uma música em homenagem a Mimoso do Sul? Quando foi isso?

MATTOS VENTANIA – Sim, é verdade e foi um prazer fazer uma música para esta cidade. Ela foi composta no ano passado, logo após o Festival... Ela saiu simples, leve e foi intitulada “Flores na Colina”. Sabe, eu estava no trevo da Gurita, alta noite, havia perdido o ônibus e a idéia fluiu..
MIMOSOONLINE – Como explica o seu desprendimento e liberdade?

MATTOS VENTANIA – Ah! Quantos sonham em abandonar tudo e sair pelo mundo? Eu não fiquei só no sonho, larguei tudo, vendi minha casa e hoje vivo na liberdade. Sou feliz assim, a lua é meu presente da cada noite e as estrelas também. Vivo à luz de velas, já morei num canil com mais de sessenta cachorros. A vida é simples e intensa, pra que complicar as coisas?
MIMOSOONLINE – E o amor, casamento?

MATTOS VENTANIA – Não tenho filhos, nem mulher, mas quando olho para o céu eu penso: será que minha amada está lá encima?... Numa dessas dúvidas compus uma música que diz que “o meu amor tá pela vida, na estrada do sonhador.” Afinal, o amor é igual a morte, quando menos espera ele aparece.
MIMOSOONLINE – A sua apresentação deste ano foi visivelmente melhor que a do ano passado. Algum ritual ou treinamento para receber o 1ª lugar?

MATTOS VENTANIA – Acho que foi porque o meu sapato estava rasgado e coloquei uma meia azul para disfarçar, deve ter me dado sorte! (risos). Não há segredo ou ritual... Vivo de música e me empenho sempre, cada vez mais.
MIMOSOONLINE – Você poderia deixar uma mensagem para o site e aos nossos internautas?

MATTOS VENTANIA – Deixo mais do que uma mensagem, deixo um trecho de uma música que me faz sentir melhor e com mais energia para as coisas da natureza. Peço que reparem mais o céu, a vastidão porque tudo é transitório, mas as coisas naturais não. (Texto: Renata Moffati)

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