Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Índios bolivianos marcham contra estrada na Amazônia, que será construída com dinheiro brasileiro

Milhares de indígenas bolivianos retomam marcha até La Paz contra construção de estrada
Unir o Atlântico ao Pacífico via terrestre é um sonho que está perto de tornar realidade. O preço é alto, não apenas no quesito investimento, mas o progresso, que já eliminou comunidades inteiras em todo o mundo, principalmente os nativos de diversos países, vai causar um problema insanável para os indígenas bolivianos da região amazônica. A estrada vai atravessar o Tipnis, uma reserva ecológica e permitirá a invasão da área aos cultivadores da coca.

O BNDES está financiando o projeto, com 415 milhões de dólares. Entidades de defesa do meio ambiente e dos nativos em todo o mundo protestam contra a construção da estrada e pressionam o Goerno de Evo Morales para que mude o traçado. Mas qualquer alteração no traçado invibializará a obra devido à elevação do custo que não tem quem banque. Os índios da região decidiram marchar até La Paz, capital da Bolíia para protestar e pedir a Morales que mude o traçado. O presidente boliviano mandou as forças militares impedir a marcha e houve confrontos. Há uma semana Morales deu uma trégua. Mas decidiu manter sua posição.

Os índios então recomeçaram a marcha e estão chegando à La Paz. Tudo leva a crer que haverá confrontos violentos e MOrales vai sofrer um desgaste político, pois os indígenas chegarão a La Paz antes das eleições judiciais de 16 de outubro. Morales teme que as eleições, inéditas, tornem-se inviáves ou que fracassem pelo clima que será criado com a tomada das ruas da capital pelos manifestantes. Em La Paz, os sindicatos de trabalhadores, ambientalistas, intelectuais e estudantes deverão juntar-se aos manifestantes.

O Brasil está envolvido porque é o país que financia a obra da estrada. A questão é da maior gravidade e a ministra da Defesa, Cecilia Chacón pediu demissão do cargo por não concordar com Evo Morales. Ela escreveu: "Assumo esta decisão porque não compartilho a medida de intervenção da passeata feita pelo governo e não posso defender ou justificar essa ação", afirma a carta de renúncia enviada a Morales. Milhares de brasileiros estão assinando documento que todos os dias chega à Presidência da Bolívia, protestando contra a construção da estrada.
"Reiniciamos a marcha e nossa intenção não é a de enfrentarmos ninguém. O que o governo deve fazer em vez de acusar os indígenas é resolver de uma vez este problema da estrada", disse à mídia local Adolfo Chávez, presidente da Central Indígena do Oriente Boliviano e ex-aliado de Morales.
Embora ainda sejam poucos em número em comparação às etnias aymara e quéchua do ocidente andino, que apoiam maciçamente Morales, os indígenas amazônicos que iniciaram a marcha em 15 de agosto na cidade de Trinidad são apoiados por setores que questionam o discurso ecologista do governo. O setor mobilizado rejeita a construção de uma estrada que atravessaria o território indígena e o Parque Nacional Isidoro Sécure (TIPNIS) no centro da Bolívia.

Na capital boliviana, La Paz, manifestantes entram em choque com a polícia nesta segunda-feira
Foto: Daniel Miranda/France Presse

Sindicados, associações indígenas, partidos de oposição e grupos ambientalistas e de defesa dos direitos humanos estão organizando mais protestos públicos para esta segunda-feira e para os próximos dias, incluindo uma greve nacional da COB (Central Operária Boliviana), a maior organização de trabalhadores do país.
(Sobre matéria da Folha de São Paulo)

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