Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sobre o 15 - para registro

O 15 de novembro já não tem mais o significado de outrora. Sem propósitos claros, com base em argumentos, os professores já não se interessam pela data como digna de ser estudada como importante no contexto histórico/cultural brasileiro. Essa atitude do professorado torna a data sem sentido para os alunos. A não ser pelo fato de ser feriado, a data nada diz a eles.
Há dias um professor de Filosofia perguntou a adolescentes do Ensino Médio o que significava o 15 de novembro. Ninguém da turma soube responder. O fato se repetiu nas diversas turmas às quais o professor leciona. Em conversa com outros professores, constatou que boa parte deles não vê sentido nas datas histórias que, quando pouco, ajudam a preservar a identidade de uma nação.


Uma questão de identidade

Para a professora de História da Universo e uma estudiosa do nosso passado Sylvia Márcia Paes, o que está acontecendo não é alvissareiro. “Não que tenhamos de manter a tradição de datas cívicas, mas sim para que possamos manter marcos significativos de nossa formação cultural”. E explica:

“As datas geralmente representam fatos marcantes da nossa história e precisam ser lembradas, pois referem-se a passagens de nosso passado que merecem uma reflexão. No caso do 15 de novembro, devemos nos perguntar: a República foi melhor que a Monarquia? Qual a diferença significativa dos dois regimes de governo? Acho importante sim, para a rememorização e reflexão de seu significado”.

Para quem ainda freqüenta os bancos escolares, a data é importante para que os alunos reflitam sobre o valor da República, sobre a República que temos. Segundo Sylvia Paes, a escola, quando relega as datas que se constituíram em marcos da nossa história, “não como dever cívico, mas como fatores representativos das transformações sociais, políticas, econômicas e culturais que merecem ser refletidas, dificultam o processo de formação da nossa identidade”.


Revisão histórica

O que era tabu para os militares há alguns anos foi esmiuçado, devassado e ganhou novas versões. Trata-se do 15 de novembro ou, mais exatamente, da Proclamação da República. Como foi um militar que proclamou a República, a data foi revestida de pompa, tão ao gosto dos artistas e cronistas da época, useiros e vezeiros em ufanismos.

Daí que o Marechal Deodoro da Fonseca é posto como herói, sobre um belo exemplar de eqüino, empunhando uma cintilante espada e bradando a plenos pulmões: Está proclamada a República! Os artistas reproduziram o gesto, com o mesmo garbo no qual foi envolvido, na pintura, o Pedro I, quando da Independência, em 1822 e, por aqui, na planície, a heroína Benta Pereira, na “retratação” do levante de 1748.

Quando o Brasil aderiu ao movimento europeu de revisão histórica, de literalizar a “verdade” histórica e de valorizar os depoimentos – história oral – nosso passado foi e está sendo recontado. E nessa recontagem, o abandono, por parte dos novos historiadores, da arrogância. Já não se postam como veiculadores da verdade “verdadeira”; preferem chamar, mesmo que timidamente, de “versões dos fatos”.

E a Proclamação da República foi alvo desse novo olhar crítico sobre a história. Já se diz, sem medo de estar cometendo uma heresia, que Deodoro não poderia estar daquela forma que aparece nas pinturas. À época, não obstante o prestígio e o respeito conquistados na defesa do Império, o marechal estava doente, velho e cansado. Os opositores ao regime tiveram que inventar uma história, fazendo futrica entre forças militares (do Palácio Imperial e dos quartéis) para que o velho marechal assumisse um lado. Claro que o lado dos quartéis.


Movimento de elites

O Império estava ruindo e parecia não caber mais no Novo Mundo. Sabemos hoje que é tudo besteira, pois muitos países, grandes e pequenos, ricos e pobres, são monárquicos. Mas as elites queriam mais poderes e precisavam participar das decisões palacianas. A República permitiria que isso ocorresse. Então, o golpe militar foi dado e a República foi proclamada.

O povo estava descrente da Monarquia, mas não havia, na época, uma crença generalizada na República. Por isso, o movimento de 15 de novembro de 1889 não teve participação popular. O povo assistiu, sem tomar parte, à proclamação da República. Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e, depois, o Ministério da Guerra. Na tarde do mesmo dia 15, na Câmara Municipal a República foi solenemente proclamada.

Dom Pedro II, que estava em Petrópolis, retornou ao Rio. No dia seguinte, o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro entregou a Dom Pedro II uma comunicação, cientificando-o da proclamação do novo regime e solicitando sua partida para o exterior. Na madrugada de 17 de novembro, Dom Pedro II partiu com a família para o desterro na Europa. Terminava assim o regime imperial brasileiro, que durou 67 anos.
(artigo publicado em O Diário em 2007)

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