Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Os fumantes no paredão

A pressão exercida pelos governos contra a indústria do tabaco de algumas décadas para cá, em quase todo mundo, não surtiu o efeito desejado, após décadas apoiando a promoção do cigarro, cujas propagandas sempre mostraram homens fortes, bonitos, saudáveis, peões, desportistas ou intelectuais, fumando suas marcas prediletas. E, embora com menos frequência, mulheres elegantes, charmosas, fumando, em geral com piteiras entre os dedos ou entre os lábios e os dedos, apareciam nas milionárias publicidades.

Como o cigarro não é como a cachaça, por exemplo, que pode ser fabricada em fundo de quintal, são poucas as indústrias e, por isso, transnacionais. Claro que há a pirataria mas é acidental e combatida pelas autoridades, ficando, digamos, sob controle. Com as ações individuais contra as indústrias, sob a alegação de que elas forçaram o vício que levaram à morte muitas pessoas e, obviamente, de algumas indenizações pagas,. os governos passaram a pressioná-las como se fossem responsáveis pelas mortes por câncer.

A verdade produzida por cientistas muito bem pagos que comprovaram que o cigarro mata ganhou os "corações e mentes" dos não fumantes e a indústria do cigarro foi  para o banco dos réus como criminosa. A publicidade do fumo foi proibida e começaram a surgir leis de proibição do fumo. Não há lei proibindo a fabricação, mas muitas leis proibindo fumar. Agora, até os lugares reservados aos fumantes não existirão mais. No Japão, o fumante recebe uma multa. Em breve, o Brasil vai adotar a medida e, quem fumar, mesmo na rua, será multado. Por enquanto, o fumante só é criminoso se fumar em locais fechados.

Nos últimos anos os governos têm investido em publicidade para divulgar os malefícios da bebida alcoólica "em excesso". Beber álcool não faz mal. O mal está na quantidade exagerada. Mais recentemente, devido a enormidade dos acidentes e às mortes no trânsito atribuídos não aos motoristas mas à bebida, tenta, o governo, a proibição de venda de bebidas nas rodovias. A culpa é do comerciante. A culpa é da quantidade "acima do normal". Nunca da indústria de bebida.

A Lei Seca americana, que gerou muitos Al Capones, máfias fortemente armadas e bandidagem incontrolável, deve frear os assépticos moralistas. Por isso não há proibição da propaganda. Inclusive porque bebida fabrica-se em "fundo de quintal" e proibi-la é criar um problema maior ainda, até porque, o consumo também é bem maior, porque os assépticos e moralistas também bebem. Muito.

A mentira de que o cigarro é o maior causador de câncer, todavia, sensibiliza a sociedade. Mesmo os fumantes já assimilaram a mentira como verdade, sem discussão, sem reflexão. E apesar de criminosa a indústria do fumo, não se proíbe a fabricação do cigarro. Criminoso é o fumante. A lógica do sistema sempre funciona, claro. Para não dizer que o fumante é um criminoso, porque tem muita gente importante que fuma, o governo prefere a palavra "viciado" e, como tal, precisa de tratamento.

Mas como já disse, a lógica do sistema é imbatível. Tanto que todos sabem que grande parte dos acidentes fatais com carros são causados pelo excesso de velocidade. Culpa-se o motorista, com uma legislação que limita a velocidade a 80, 100 e 110 Km/h nas estradas, mas permite-se que o veículo seja capaz de desenvolver alta velocidade, chegando a 260 Km/h. Na publicidade o carro é tão veloz que levanta saias, batinas e até tira a roupa de quem está na calçada. Com isso, gera a cobiça do provável comprador. 

Impotente, aceitamos as "verdades" e muitos de nós auto-estigmatizam-se como delinquentes, infratores, criminosos. Os vícios, prazeres apenas para os detentores do poder. Para o resto, a assepsia ou, no popular, uma vida "sem sal". É como a publicidade contra as drogas (leia-se maconha, cocaína, heroína etc.) ilícitas feitas por atletas e artistas que fazem uso das mesmas e, no entanto, vendem a imagem da assepsia.   

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