Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Os presos e cassados em Campos deveriam receber uma homenagem

Dos deputados cassados pela ditadura militar,  vários foram meus amigos e junto aos quais atuei na luta contra a ditadura. O mais íntimo foi Adão Pereira Nunes, cassado em 1964 e que retornou ao Brasil e, 1973, após o golpe que derrubou o presidente socialista do Chile, Salvador Allende. Conheci Adão em Ipanema e ele evitava falar em política. Conversávamos muito e seu livro Conversa de Plantão, foi lançado na nossa livraria naquele mesmo ano de 1973. 

Era abril de 1976 quando, andando na rua (não me lembro onde) ouvi pelo rádio a cassação de Lysaneas Maciel. A "abertura lenta e gradual" do ditador Geisel não ocorreria sem, primeiro, cassar o que restava dos deputados combativos, "subversivos e comunistas". Lysâneas não era comunista, mas era combativo. Lutava pelos direitos humanos.  Morreu em 1999.

Embora morando em Ipanema (sua residência fixa até hoje), não conheci Antonio Carlos Pereira Pinto senão em 1979, após a abertura política e o retorno de Brizola. Tornamo-nos íntimos e é uma figura ímpar, que sempre admirei por sua coragem, seu bom humor e sua sensibilidade como cidadão, como artista e como homem público. Pereira Pinto foi cassado em 1968, com o AI-5. Aos 85 anos de idade, continua produzindo (artes plásticas e crônicas e poemas).

Sadi Coube Bogado também foi cassado em 1968, mas só o conheci após a abertura política. Democrata cristão, Sadi era amigo, tipo paizão, amigo de Walter Silva e conversávamos muito no Largo da Imprensa, quando ainda existia o "jornalismo romântico". Algumas vezes perdíamos a hora e ele (eu não tinha carro) me levava em casa, no Tarcísio Miranda. Religioso, moderado, nada tinha de subversivo ou comunista. Agora, com 84 anos, está num leito de hospital, em coma. 

Ivete Vargas conheci pouco, ainda no PTB, quando fez parte do golpe golberyniano para tirar o partido "das mãos do Brizola". Morreu poucos anos depois, em 1984.

Não estava na lista, pois não era deputado, e sim, vereador, quando foi cassado, em 1964, o também meu amigo Jacyr Barbeto, que ainda está a merecer das autoridades e, principalmente, da Câmara de Vereadores de Campos, as honrarias e homenagens devidas a um homem que lutou bravamente em prol dos ferroviários e da população de Campos, pagando um alto preço por isso. Retornou a Campos para dirigir o Detran no Governo Brizola e morreu num acidente de trânsito, para muitos, suspeito, em janeiro de 1987. 

Fui amigo de muitos outros cassados e perseguidos pela ditadura, como Gerardo Mello Mourão, Darcy Ribeiro, Fausto Wolff, o deputado estadual de Macaé, Aristóteles Miranda Melo, enfim, que ainda não mereceram a reparação devida. E Leonel Brizola, com quem convivi por um bom período, mas a minha insignificância não permitiu que ele me desse intimidade, embora me chamasse de "Garruchão", apelido cunhado por Adão Pereira Nunes devido a minha estatura, meu perfil magérrimo e minha barba comprida.

Quando leio notícia e vejo fotos da Câmara dos Deputados empossando simbolicamente os deputados cassados, minha emoção aflora, principalmente devido aos companheiros injustiçados porque lutavam pelo povo brasileiro, pela democracia. 

Em Campos, além de Jacyr Barbeto, a nova Câmara (já que a atual está no fim) deveria aproveitar o mote da Câmara dos Deputados e promover uma sessão solene, especial, para homenagear o único vereador cassado pela ditadura, que foi Jacyr Barbeto, o prefeito de então Barcelos Martins, que teve sua morte  provocada pela ditadura, e os presos políticos como Irineu Marins, Tarcísio Tupinambá, Delso Gomes, Fernando Machado, Adão Voloch (vereador que chegou a ser preso por ser comunista). 

A lista dos presos atingiu políticos sem mandato, líderes sindicais e os que lutavam pela reforma agrária, como: Almirante Costa, Jamir Barbeto, Jacques Malamud, José das Dores, Péricles Ramos, Hélio de Oliveira, Helson Oliveira, Homero Rangel, Jorge Pinto, Herval de Freitas, Telbo Neto, Franklin Coutinho, Alcebíades Araújo, Francisco de Assis Justo, Sanches Soares,  Miguel Ribeiro, Abel Moreira, Daniel Dantas, Eduardo Minervino, Sátiro Borges, Francisco Diniz, Josival Barreto, Octávio das Dores, João Carneiro, ângelo Carneiro da Silva. A lista deve chegar a 100 presos. Grande parte foi liberada pouco tempo depois. Jacyr era considerado o mais perigoso e ficava numa cela isolada. Delso Gomes ficou preso por muito mais tempo e, quase 10 anos depois, Fernando Machado foi preso e também, ficou muito tempo na cadeia. 

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