Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A ONU (leia-se EUA) e a maconha no Uruguai

Não sei se a medida tomada pelo Uruguai, em relação à liberação da maconha, embora com controle, é a mais acertada. Pelo menos, é uma tentativa de reduzir o narcotráfico. Não sei também se maconha é droga, pois não é fabricada em laboratório, como a cocaína, por exemplo. 

Mas é inadmissível que o chefe da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes da ONU, Raymond Yans tenha criticado duramente o Uruguai, que tem pouco mais de 3 milhões de habitantes e nada tenha dito sobre a liberação da maconha nos estados de Washington e do Colorado, nos EUA, cuja população supera em muito o país do cone sul.

O presidente do Uruguai, José Mujica, reagiu furiosamente às declarações de Raymond Yans, que disse:

"O que o Uruguai fez foi uma visão própria de piratas. Esperamos que as altas autoridades entendam que isso é um erro, que esse não é o caminho correto para tratar de assuntos relacionados ao controle de drogas". Yans criticou também a negativa de Montevidéu em realizar uma reunião com representantes do órgão. 

As críticas de Yans provocaram uma reação furiosa do presidente do Uruguai, Mujica, que negou que tenha rejeitado uma reunião e criticou a acusação de pirata. O presidente também acusou o representante de fazer um discurso mais duro com o Uruguai, em comparação com outros países. 

"Digam a esse velho que não minta, qualquer pessoa na rua se reúne comigo. Que venha ao Uruguai e se reúna comigo quando quiser, que não fale para a arquibancada. Porque está em um posto de pedestal ele acha que pode dizer qualquer besteira", afirmou. 

"Que ele venha, mas vai ter que esclarecer o que acontece em um montão de Estados americanos, onde cada um deles, só com a capital, superam a população uruguaia. Ou eles têm dois discursos, um para o Uruguai e outro para os que são fortes?", disse, a respeito da liberação nos Estados de Washington e do Colorado. 

O país sul-americano, de 3,3 milhões de habitantes, se tornou o primeiro no mundo a legalizar a produção e a venda de maconha, uma iniciativa considerada pelo governo como um experimento para enfrentar o narcotráfico. 

A iniciativa foi considerada a solução por Montevidéu para o fracasso nas políticas repressivas do tráfico de drogas, que deixam milhares de mortos na América Latina. Além da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, o Departamento de Estado americano criticou a decisão uruguaia. 

"Depende do povo uruguaio decidir que políticas sobre as drogas são as mais apropriadas para o país. Como qualquer país, o Uruguai tem a obrigação de cumprir com seus compromissos internacionais". 

Os EUA tudo podem. Controlam o mundo, em certa medida. A América Latina é toda (menos Cuba) controlada por eles. Quando quiseram derrubar as democracias, instalaram ditaduras sanguinárias. Quando os militares estatizaram a economia, mudaram o discurso e apoiaram as democracias. 

Sem querer riscos, atuaram para eliminar todas as lideranças nacionais da América Latina, não conseguindo assassinar Fidel e Brizola. Fidel eles isolaram e Brizola eles evitaram que chegasse à Presidência da República, criando o PT e entregando o PTB à Ivete Vargas. E, claro, só permitindo eleições diretas quando estavam seguros da vitória (via Globo, elegeram Collor). 

Assassinaram Saddam e sua família. Assassinaram o ex-aliado Bin Laden. Assassinaram outras lideranças orientais, acusados de terroristas e ditadores. Mas eles controlam a ONU e ditam a política na base do "faça o que eu digo, não o que eu faço". Enfim, não têm moral para criticar ninguém.

Que deixem o Uruguai resolver seus problemas.
(sobre matéria da Folha de São Paulo)

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