Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Garotinho faz a cidade debater política

Garotinho forjou na luta sua liderança





O que os ingênuos politicamente não sabem, é que liderança não é algo que se obtém apenas por querer, ou porque alguém se diz líder ou, ainda, por estar à frente de um movimento num determinado momento. A liderança é forjada na atuação. Não basta discursar, pois, por melhor que seja o orador não quer dizer que, por isso, ele é líder.

Garotinho forjou sua liderança na luta diária contra os que exerciam o poder, em diversas instâncias. Podem até dizer que ele tem espírito de liderança. Mas isso não basta. Teve a humildade de aceitar a liderança do Brizola, quando ingressou no PDT. Chegou a imitá-lo, durante um tempo. E Brizola era um grande líder. Liderança forjada na luta e que havia aceitado ser liderado por outro grande líder: Getúlio Vargas. Também chegou a imitar o Presidente quando iniciou sua carreira. 1

Assim, com essa "escola", Garotinho não discursa, conversa. Tenha na plateia uma dúzia de pessoas ou milhares de pessoas. Ele conversa. Assim como o Brizola. Forjando na luta sua liderança, sem dinheiro, sem apoio de empresários (na sua campanha teve um Passat e um motorista, cedido pelo irmão do saudoso Adão Pereira Nunes, Paulo Pereira Nunes), elegeu-se deputado. O mais votado em Campos. Foram 33 mil votos em 1986, contra 30 mil de Sérgio Diniz, candidato do todo poderoso Zezé Barbosa. Sim, teve o apoio do Brizola, reconheçamos. Mas não foi o único.

Em 1988 elegeu-se prefeito. Embora deputado, não tinha recursos para a campanha. Perdeu o programa de rádio e, com tenacidade e perseverança, oi às ruas com seu programa de rádio em cima de um caminhão. O caminhão era meu. Parei com meu comércio para, diariamente (toda noite na verdade) ele e Rosinha continuarem com seu Fala Garotinho. A Justiça Eleitoral proibiu. Focamos na campanha. E ele venceu as grandes forças políticas de Campos. O prefeito era Zezé e o governador do Estado era Moreira Franco.

Fez uma administração que colocou seu nome na história. Elegeu seu sucessor e foi conquistar a Guanabara. Missão quase impossível. Um ex-prefeito do interior, conquistar a Guanabara. Mas obteve uma votação extraordinária, que o credenciou a uma nova tentativa quatro anos depois. Retornou a Campos e numa situação adversa, sem recursos nem mesmo para comprar fita K-7 para enviar os programas de rádio e fitas de vídeo para os programas de televisão. Venceu a eleição.

Em 1998, deixou a Prefeitura com o vice-prefeito e novamente percorreu o Estado na campanha vitoriosa que o levou ao Palácio Guanabara, onde entrara pela primeira vez em 1983, quando o apresentei ao Brizola. Ele ainda era do PT. Antes de terminar o mandato, saiu para se candidatar à Presidência da República. Sem tempo na TV, com um partido minúsculo, o PSB, obteve uma votação que surpreendeu a muitos analistas políticos. Foram 16 milhões de votos. 

Na oposição, elege Rosinha, sua esposa, governadora em 2002. Sua administração foi considerada pela crítica como a melhor do país (entre os governadores) e uma das melhores  da história do Estado. No PMDB, em 2006, foi impedido de ser candidato, mesmo ganhando as prévias do Partido, conforme o estatuto. Foi dado como "morto" politicamente. Voltou a Campos e conseguiu, com a candidatura de Rosinha, vencer a força da corrupção que estava instalada no município e se tornava endêmica. Ao mesmo tempo, elegeu sua filha vereadora no Rio.

Dois anos depois, elege-se com a maior votação nominal da história do Estado: 700 mil votos. Ao mesmo tempo, sua filha se elege deputada estadual e Paulo Feijó, deputado federal, além de Roberto Henriques, deputado estadual que deixou sua liderança para ficar ao lado do poder do Estado. Na Câmara, projetou Campos, conseguindo recursos para diversas áreas da administração. Ajudou Dilma que estava para ser derrotada pelos abutres do Congresso na questão dos portos, recebendo dela muitos elogios. 

Agora, retorna a Campos e, não aceitando cargos importantes no Governo Dilma, em vez de discutir com ministros, governadores e a própria Presidente, discute com vereadores... Bom para o exercício político, mas o nível é outro. Está cá embaixo. De qualquer maneira, revela mais uma vez seu amor por Campos. Os interioranos que se elegem governadores, não saem mais das capitais. Garotinho, não. Vota na sua cidade, retorna à sua cidade e debate na sua cidade. 

A despeito das divergências políticas, saudáveis numa democracia, até os adversários devem reconhecer: Garotinho ama sua cidade, enfrenta as situações de peito aberto, e faz a cidade debater, polemizar. Ele é o centro dos debates: seja contra ou a favor. É uma liderança que tem que ser reverenciada. Só os despeitados não reconhecem isso.

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