Origem e significado do 06 de agosto
Com base em relatos dos apóstolos (do grego apóstolos ou do latim apostolu, que significa enviado, mas que também quer dizer aquele que evangeliza; propagador de qualquer idéia ou doutrina)
Mateus, Marcos e Lucas (estes últimos não viveram na mesma época do Nazareno),
Jesus subiu com Pedro, Thiago e João ao Monte Tabor e aí se transfigurou (mudou
sua aparência, apareceu em estado glorioso, iluminado) perante eles. Teria sido
no dia 06 de agosto. Esta data passou a ter uma grande significação para os
seguidores das idéias de Cristo. A partir do século V, a transfiguração passou
a ser comemorada pelos cristãos, inicialmente de forma tímida. Só no início da
Modernidade é que a data tornou-se um símbolo considerável.
Para comemorar a vitória das tropas
cristãs sobre os turcos, que ameaçavam a liberdade da Europa, em 1457, a transfiguração de
Jesus Cristo serviu de pretexto para o Papa Calisto III (escolhido em 1455,
exercendo o cargo até 1458) reforçar o cristianismo. Ele estendeu as
comemorações dessa data à toda
cristandade, em memória daquele feito, ou seja, a vitória dos cristãos
sobre os turcos.
O significado do 06 de agosto, pelo
menos em Campos, não é conhecido pela maioria da população. Muitos acreditam
que a denominação da Vila foi instituída
pelo mandatário da Capitania, Salvador Corrêa de Sá e Benevides para
auto-homenagear-se, já que teria ele nascido a 06 de agosto. Em entrevista à
Rede Record de Televisão o senador Marcelo Crivela fez referência à data
dizendo tratar-se do aniversário de Salvador Corrêa.
Porém, mesmo os leigos não sabendo o motivo, comemoram a data que,
segundo Pius Parsch (no livro O Santo do Dia) “é importante para os cristãos
contemplarem com respeito e adoração o Cristo Deus encarnado”. É ver em sua
transfiguração a imagem da futura transfiguração dos cristãos, pois todos
esperam o Salvador, que transformará o corpo dos mortais à semelhança de seu
corpo glorioso. Os cristãos devem, portanto, constantemente trabalhar visando a
transfiguração, pela prática da vida interior e espiritual. Essa
transfiguração, de certa forma, já se realiza na comunhão, considerada “germe
de glória e penhor da nossa ressurreição futura”.
É importante registrar que o mês de
agosto foi criado pelo imperador romano
Júlio César. Ele viveu no século
anterior a Cristo (102 a
44 a .C.)
e, como imperador, no ano 46 a .C. pediu ao astrônomo
Sosígenes para rever o calendário e sugerir meios de aperfeiçoá-lo. Com base
nas idéias de Sosígenes, Júlio César ordenou aos romanos que não considerassem
a lua no cálculo de seus calendários. Dividiu o ano em 12 meses de 30 dias e 31
dias, com exceção de fevereiro, que ficou com 28/29 dias. A cada 04 anos, esse
mês teria 30 dias. O início do ano, até então, era 1º de março e Júlio César
decidiu que seria 1º de janeiro.
Em homenagem a Júlio César, os romanos
mudaram o mês quintilis para julius
(julho). Depois, para homenagear Augusto César, que viveu de 63 a 14 a .C. e que foi Imperador de
27 a 14 a .C.), o Senado Romano decidiu
que o mês sextilis passasse a ser
denominado Augusto (agosto). Conta a lenda que o Senado também acrescentou mais
um dia a agosto (que só tinha 30 dias) para que tivesse o mesmo peso de julho,
ou seja, os dois imperadores homenageados estariam no mesmo patamar. Para
tanto, tiraram um dia de fevereiro. O calendário juliano foi amplamente
utilizado por cerca de 1500 anos. Foi ele que tornou possível o ano de 365 dias
e 1/4. Mas era 11 minutos e 14 segundos mais longo que o ano solar.
Ao leitor pouco familiarizado com a
história, explicamos que César (do latim Caesar)
era o título dos imperadores romanos, acrescentado ao nome de todo imperador
romano do fim da República até o império de Adriano (que viveu do ano 76 ao ano
138 d.C.). Na Alemanha, Adolf Hitler era o novo
César, imperador do mundo e que
na língua germânica se escrevia Kaiser.
Também os imperadores russos adotaram o César que, naquela língua, é Czar.
A explicação sobre o calendário é
importante porque: primeiro, a transfiguração de Jesus teria ocorrido em
agosto, ou seja, um mês que foi criado pelos romanos, sabidamente perseguidores
de cristãos, para homenagear um imperador (numa época ainda não cristã); e
segundo, porque, mesmo com 12 meses, permaneceu a denominação anterior para os
demais, assim, o ano termina em dezembro, de dez, mas nos referimos ao mês como doze. Assim como novembro é nove
e, para nós, é onze. Outubro é oito e, para nós, é dez etc. No caso de quintilis
(julho) e sextilis (agosto), que significam
cinco e seis, registre-se mais uma vez que o ano começava em março. Assim , o
quinto mês era julho e o sexto, agosto, diferentemente da pós-mudança, quando o
início do ano passou a ser janeiro.
Em 1582 o Papa Gregório XIII, seguindo
conselho de astrônomos, corrigiu a diferença entre o ano solar e o calendário
juliano, ordenando a retirada de dez dias de outubro. Assim, o 05 de outubro de
1582 passou a ser 15 de outubro. Este mesmo Papa decretou que fevereiro teria
um dia a mais nos anos centenários que fossem divisíveis por 400 (como 1600,
2000) mas não nos outros (como 1700, 1800, 1900). Assim o calendário juliano, aperfeiçoado pelo Papa Gregório, passou a ser
conhecido como calendário gregoriano.
Pois bem, quando os portugueses
aportaram no Brasil, trouxeram os ensinamentos cristãos, o seu calendário e a
importância das suas datas religiosas. Cristãos eram os que exterminaram os
nativos da planície, os goitacás. Também os que dominaram a Capitania de São
Thomé, depois, Paraíba do Sul, até a elevação à
Vila, em 29 de maio de 1677, com
a denominação de Villa de San Salvador dos Campos, uma realização do ex-governador do Rio de Janeiro
e dono da Capitania (que depois passou para seus filhos) general Salvador
Corrêa de Sá e Benevides (ou Benavides). A transfiguração de Jesus, que tinha
muita significação entre a cristandade na Europa, foi introduzida no Brasil,
como se observa, pelos portugueses que, a despeito de escravizarem índios e
negros, eram fervorosos cristãos.
Como o fundador da Vila tinha o nome de
Salvador, o 06 de agosto, festa maior da cidade de Campos, gerou - e ainda gera
- especulações e afirmações absurdas, protagonizadas por memorialistas segundo
os quais o 06 de agosto é comemorado por
ser a data de nascimento de Salvador Corrêa de Sá e Benevides, que deu à Vila
seu próprio nome. Não explicam, porém, como a capital da Bahia também se
chama São Salvador. Nem como a Igreja Católica perpetuou a data, comemorando-a
com fervor, mesmo após todas as transformações internas ocorridas em todo esse
tempo. Seria uma insensatez os católicos comemorarem uma data que faz
referência e perpetua a memória de um general.
Esta obra pretende dar um fim a esta ignomínia, registrando a festa do
padroeiro de Campos e explicando a origem da comemoração do 06 de agosto.
Esclarece para os leitores que muitos
estudiosos da nossa história estão enganados ao afirmarem que o general,
ao (re) construir, em 1652,
a capela (onde depois foi erguida a Igreja de São
Francisco de Assis), dedicou-a a São Salvador, numa homenagem ao pretenso santo
do seu nome e, como não existe nenhum santo chamado Salvador, ele estaria
homenageando a si próprio. Também esclarece que Salvador Corrêa de Sá e
Benevides não nasceu no Rio de Janeiro, em 06 de agosto de 1594, como procuraram
demonstrar esses mesmos memorialistas.
O erro é admissível quando se tenta
encontrar a verdade. Mas a busca pela verdade deve ser permanente. Para dirimir
dúvidas acerca dessa questão da data de nascimento de Salvador Corrêa de Sá e
Benevides (já que muitos acreditam que o 06 de agosto seria uma festa em
homenagem ao donatário da Capitania), decidimos incluir neste trabalho alguns
dados sobre aquele general.
O escritor Charles Ralph Boxer, numa
análise minuciosa da vida de Salvador Corrêa de Sá e Benevides em seu livro Salvador de Sá e a Luta pelo Brasil e Angola
- 1602/1686, traz sua árvore genealógica e assegura que, por informações
prestadas pelo próprio general à Mesa da Consciência e Ordens, em 1644, ele
nasceu em Cádis, em 1602, no porto de Andaluzia. Não há registro do dia e mês
de seu nascimento, mas Boxer arrisca os meses de janeiro e fevereiro para o
nascimento do primeiro filho de Martim Corrêa de Sá e Maria de Mendoza y
Benavides. O bebê recebeu o nome em homenagem ao seu avô.
“Quando nasceu Salvador, seu pai estava
no Brasil ou a caminho de Portugal. As declarações de Salvador à Mesa da
Consciência e Ordem foram prestadas quando ele tornou-se Chantre (palavra francesa
que significa cantor ou funcionário eclesiástico que dirige o coro
da igreja) da Catedral de Lisboa e Cavaleiro da Ordem de Cristo, em 1644. Dessa forma, torna-se sem efeito os
dados contidos em livros de bibliógrafos portugueses e brasileiros, segundo os
quais Salvador Corrêa de Sá e Benevides nasceu no Rio de Janeiro, em 1594” . Até porque seus pais,
Dona Maria e Martim Corrêa de Sá casaram-se em 1600 ou 1601.
(Trecho do meu livro sobre a Festa de São Salvador)
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