Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







sábado, 23 de janeiro de 2016

Densidade demográfica e pobreza. Nada a ver.

Alguém me disse, há dias, o que grande parte das pessoas dizem, por falta de conhecimento suficiente para externar argumentos válidos. Em verdade, o dito da grande maioria da humanidade está alicerçado na opinião que, sem argumento com base apenas na informação e não em conhecimento, é lixo. Pois bem, alguém me disse que Noruega, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Suiça, Holanda, países que, embora não tenham a nossa riqueza, são organizados e a população vive infinitamente melhor que nós, o são porque suas densidades demográficas são ínfimas, se comparadas às do Brasil, EUA, Índia, China e alguns outros, que têm problemas graves devido à pobreza e miséria.  

Contra-argumentei dizendo que o Haiti, a Bolívia, o Paraguai e tantos outros países têm populações diminutas e são muito pobres. 

Agora, aproveito a conversa que mais pareceu papo de botequim, para dizer que o Brasil, no início da República, tinha pouco mais de 17 milhões de habitantes e a maioria era miserável. Na época de Nilo Peçanha, 1909/1910, a população brasileira era de 23 milhões e a maioria era miserável. Em 1920, o censo demográfico registrou 30 milhões. E a grande maioria na miséria. Na era Juscelino, o Brasil não tinha mais que 60 milhões de habitantes. A maioria na miséria. Em 1970, todos se lembram dos "90 milhões em ação". E a grande maioria na pobreza e na miséria. 

Agora, temos 200 milhões de pessoas, com uma classe média importante e um consumo exacerbado, o que revela que o crescimento da economia gerou uma divisão de renda que permitiu que os dados invertessem. Agora, são 40 por cento que estão na pobreza e na miséria. Ou seja, não é o tamanho do país ou o número de habitantes que são responsáveis por uma vida boa ou ruim para a grande maioria. É a divisão de renda. São leis que evitem o enriquecimento ilimitado de alguns em detrimento de milhões de pessoas. 

No Brasil, um país riquíssimo, faltam leis que acabem com o direito à herança. Se não em 100%, pelo menos em 70%; lei de remessa de lucros, limitando a saída de dinheiro das filiais para suas matrizes; imposto sobre fortunas; desvinculação dos juros estabelecidos para controle da economia dos juros pagos relativos à dívida interna que consomem, hoje, quase a metade do montante arrecadado em impostos pelo governo. Claro que muitas outras medidas deverão ser adotadas, como a federalização da educação, o aumento do salário mínimo de acordo com os dados do DIEESE e das mais diversas categorias profissionais que, ainda hoje, recebem muito menos que o mínimo estabelecido por Vargas.

Sei que ainda é um sonho. Ainda mais com uma parte da população pobre fazendo coro com as elites, que desejam o Estado apenas para elas, para seus subsídios, para os empréstimos a fundo perdido ou quase... ao mesmo tempo que pressionam para que tenhamos um estado mínimo. Um paradoxo que, para as elites, soa como "normal". E que muitos pobres, principalmente a desmemoriada classe média, desejam. Ou a mídia fazem com que desejem, já que grande parte é constituída de videotas. 

Esperar que as elites promovam as reformas para que o sonho se torne realidade, é acreditar em deuses e contos da carochinha. Uma revolução operária e/ou proletária é praticamente impossível. Então, realmente, não sei o que poderá ser feito. Os professores, que deveriam desempenhar importante papel na conscientização dos jovens, são, em quase sua totalidade, videotas. As classes desejam melhorias para elas - todas elas - e se, satisfeitas, não se interessam pelos outros. São sistêmicas e despolitizadas. 

É isso.   


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