Avelino Ferreira, 63 anos, brasileiro, casado, sete filhos, sete netos. Jornalista; escritor; professor de Filosofia.







segunda-feira, 18 de abril de 2016

Um golpe na democracia é o que assisti nesre domingo

Acompanhei diuturnamente as votações do processo de impedimento da presidente Dilma Roussef. Já disse sobre a desfaçatez de grande parte do eleitorado e me veio a mente a fala de Lula quando esteve na Câmara dos Deputados, de que ali existiam 300 picaretas.

Os parlamentares que votaram a favor do impedimento, em sua maioria esmagadora, não estavam preocupados com a questão constitucional, mas sim, em vingança, em perfídias regionais, em agrado àqueles aos quais devem o mandato e a uma parcela do eleitorado. Sem falar, é claro, em interesses escusos.

Não havia uma preocupação com legalidade ou legitimidade da maioria. Quase todos apelaram para questões que nada tinham a ver com o que estava sendo votado. E pior: o presidente da Casa e articulador do impedimento de Dilma, Eduardo Cunha, não tem condições morais de estar na Casa, de presidir a Câmara e muito menos de presidir o processo de impedimento.

Repito que não sou petista, só votei em Lula e Dilma por falta de uma melhor opção nos segundos turnos das eleições presidenciais, mas jamais compactuarei com golpe. Venho de longe. Conheço história. O movimento das ruas me fez lembrar o Chile da época de Allende, quando a sociedade estava dividida e nas ruas, em defesa e no ataque ao seu governo. Mas ele não obteve maioria no Congresso, que articulou o golpe, com apoio dos EUA.

Não se consegue governar com minoria. Quem sabe um pouco de política entende que há necessidade de negociação para conquistar a maioria. Dilma fez isso, mas não conseguiu eleger o presidente da Câmara e do Senado. E o que é pior: foram eleitas duas figuras despudoradas, oportunistas, que são Eduardo Cunha e Renan Calheiros.  Cheguei a dizer(e escrever) que ela teria dificuldade para governar.

Não deu outra, pois não governou, nesses 16 meses. A crise econômica se agravou. Não por culpa dela, mas das relações internacionais que ficaram desfavoráveis com a redução de crescimento na China, principalmente. Aliada a ela, as denúncias de corrupção ganharam notoriedade coisa que jamais ocorreu. Tanto que, pela primeira vez, industriais, empresários e políticos de primeiro escalão estão sendo processados e presos.

Se a economia vai bem, o governo vai bem. Em qualquer lugar do mundo. Seja governos de direita ou de esquerda. A ditadura militar só foi deplorada pelo povo brasileiro quando a economia ruiu. Antes, só os resistentes, uma minoria insignificante, enquanto quantidade, a combatiam. A maioria era omissa. Quando veio a crise do petróleo e o fim do “milagre brasileiro” é que a classe média passou a deplorar o sistema ditatorial.

No Chile, não foi fácil tirar Pinochet, que implantou a ditadura mais cruel do continente. Assumiu o poder e lá ficou por quase 18 anos. E foi necessária uma campanha inteligente, difícil, como mostra o filme “NO”, para tirá-lo do poder. Ou seja, se a economia vai bem, a classe média satisfeita, no poder pode estar Brizola, Prestes ou Hitler que a maioria aprova. Se a economia vai mal, pode estar no poder o Papa, um santo ou um Deus, que o povo ficará contra.


O golpe em Dilma é, na verdade, um golpe na democracia. Escrevi isso no Face de Paulo Feijó, que votou a favor do golpe. Só para registro, pois a história vai mostrar isso. A Igreja já pediu perdão por seus crimes. No Chile, até o Judiciário (coisa rara no mundo) pediu perdão pela omissão na época da ditadura, que matou milhares e torturou mais de 40 mil. Os golpistas de hoje na Câmara dos Deputados, afora aqueles que votaram porque são fascistas, nazi-fascistas, serão cobrados pela História, para onde tendem a entrar como oportunistas, levianos, golpistas. 

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